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“Wheres My House?” Um relato da Cena Eletrônica de Londres de 1989 a 2016

Coluna Tudo Beats

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“Wheres My House?” Um relato da Cena Eletrônica de Londres de 1989 a 2016

 

 
“Um relato de dentro da Cena Eletrônica de Londres. De 1989 a 2016, do Chicago House ao Drum’n Bass, da ascensão à queda das Free Raves, mudanças nas Leis inglesas e o cenário Club de hoje”


… parece que a “Época de Ouro” das Raves, Squat Parties e Clubs Underground de Londres não é hoje, em 2016.”

 

 

 

 Publicado 02/03/2016, por Marc Castello (UK) com adaptação de Nazen Carneiro

 

Era o ano de 1989 quando um amigo meu me perguntou se eu queria ir a uma festa e disse que era de um estilo novo de música, chamado ‘Acid House’. A festa ia rolar num galpão abandonado, antiga sede do Wembley Film Studios.
 

Nós chegamos na festa lá por meia noite. Três ou quatro seguranças fortões na entrada. Custava vinte libras para entrar, o que era muita grana naquela época. Pagamos a entrada e os seguranças bateram porta. Entramos. Por um momento aquilo foi como um sonho, algo que eu nunca tinha tido contato antes disso. A música tinha uma linha de baixo pulsante e víamos muitas pessoas dançando a vontade. Acho que uns treze minutos depois eu já tinha sido tomado por esse som chamado House um mix de Chicago house e Detroit House. Produzido por artistas como Lil Louis, Fingers Inc., Frankie Knuckles, Marshall Jefferson e Derrick May.



 

Esse novo estilo musical logo pegou toda a juventude de Londres e tomou os Clubs da cidade. Em pouco tempo a Inglaterra também passou a ter seus produtores compondo House music com seus próprios estilos. Um dos principais clubs daquela época do final dos anos 80 e início dos anos 90, foram o “Shoom”, fundado por Danny_Rampling e Paul Oakenfold, e tinha também o Hacienda, de Manchester, fundado por Mike Pickering, o Trip Club, aberto por Nicky Holloway e ainda o Astoria Club – em Charing Cross Road.   Alguns dos grandes DJs tocaram nestes lugares, só para citar alguns dá pra falar de John Digweed, Dave Angel, Pete Tong, Sasha, Fabio An, Groove Riders, Paul Oakenfold, Carl Cox, enfim, estes eram “Os Caras” que todos queriam ouvir.
Conforme o tempo passou, mais Clubs apareceram… Turnmills Night Club, The End (club), Plastic People, Bagleys Warehouse, The Fridge… Todos estes Clubs integraram um circuito underground onde você podia curtir músicas originais e grandes DJs Produtores. Lá por 1991 esse House music, em Londres, estava mudando para algo que veio a ser o Techno e se juntou a outras influências como Rap, Hardcore, e Progressive House. Todos estes Clubs, infelizmente, estão fechados hoje .

 

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Clássico ônibus inglês tranformado em um trailer, que percorria raves da época
Nessa época as “Free Parties”, ou “Free Raves” – as festas open air gratuitas que popularizaram o acesso a música eletrônica, expandindo vertiginosamente, e caracterizando tudo isso não só como música, mas como um movimento cultural – aconteciam pra cima e pra baixo da “M25 motorway” – a rodovia que circunda Londres. Estes anos ficaram conhecidos como o “Verão do Amor”, algumas famosas festas já aconteceram nesta época como a Raindance e a Biology, mas o que marcou mesmo foram as festas menores, que você ficava sabendo só no boca a boca. Ou alguém te passava o número de telefone, ou você encontrava no canto de um flyer de outra festa – em letras miúdas. Ligando as 9 da noite de sábado uma secretária eletrônica dava a mensagem. “Dirija pela rodovia umas 50 milhas, saia da junção 11, entre na 6, continue reto pela estrada de chão e você vai encontrar uma fazenda. A festa é lá”.
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A multidão dança durante Free Rave, 1991
A gente fez isso muitas vezes, vários grupos de Ravers tentando se perder por estradas de chão com as janelas abertas, o vento batendo no rosto e buscando ouvir aquele som da música distante. Quando encontrasse uma polícia estacionada: Você já estava perto. Estas festas rolavam em descampados e fazendas e podiam rolar direto por uns 3 dias ou mais. As festas da Spiral Tribe eram bem conhecidas, assim como o Castlemorton Common Festival, por exemplo – ambas de 1992- por rolarem durante cinco dias.
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Bom… com tudo isso acontecendo, ainda mais numa época conturbada – queda da URSS, Guerra do Golfo, enfim – parece que o governo Britânico se encheu daqueles ravers invadindo prédios e fazendas com suas ‘Free Raves” e se divertindo muito, então eles alteraram a Lei do país – The Criminal Justice bill – em 1994, da seguinte forma: “reuniões com mais de 10 pessoas num só lugar serão ilegais a partir de agora”, e então poderiam prender todos. Isso até que segurou um pouco o movimento mas não acabou com ele.
“Eles Querem Lutar, Nós queremos Dançar”. Protesto em Londres contra Lei que limitou as famosas “Squat Parties”, berço da cultura clubber.
 
Squat, neste caso, em inglês, quer dizer ocupar. O cidadão vê um imóvel abandonado, entra e ocupa ele. E a polícia não podia retirar o ‘squatter’, apenas a Justiça. Sendo assim, as pessoas estavam invadindo qualquer prédio vazio, ligando um sound system, ou vários, e pronto; Squat Party. Algumas destas festas eram organizadas por coletivos de dezenas de pessoas. Prédios, mansões, tudo tocando House, Tecno e Drum’n Bass. Tinha muita coisa acontecendo e a cena de Londres tava fervendo com festas que gratuitas que duravam dias, como a STonKA , feita pelos DJs Produtores Chris Liberator, Julian Liberator e Jerome Hill, “os caras”  do Acid Techno.
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As “Squat Parties” funcionaram bem durante bons 22 anos até que outra lei foi aprovada e dificultou tudo, a polícia passou a chegar junto, esvaziar e fechar as festas confiscando o ‘ sound system’ . Bem… parece que a “Época de Ouro” das Raves, Squat Parties e Clubs Underground não é hoje em 2016. Como DJ naquela época eu poderia ir à uma Loja de Discos, ouvir 10 álbuns e comprar todos eles. Hoje eu teria que ouvir 100 para comprar 10. Parece que a ‘qualidade’ se foi pelo ralo e o hoje a ‘quantidade’ predomina
Das antigas eu lembro de ler o George Harrison falando; “A música eletrônica será a morte da música”. Eu odiei ele por isso, afinal eu amo a música eletrônica, mas pensando bem, talvez ele tinha um ponto naquilo. Afinal, eu lá quero ir a um Club pra ouvir algun ‘ House remix’  da Rihanna, Beyoncé ou toda aquela porra comercial? Isso tudo tem sido “forçado guela abaixo”! A boa música eletrônica nunca foi sobre isso.
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Agora em janeiro vem a revista The Economist dizendo que a razão pela qual os Clubs de Londres estão fechando é por que as pessoas estão usando menos drogas. Deixa eu te dizer uma coisa: Isso sempre rolou, mas as pessoas nunca foram pros clubs somente para tomar drogas, eles vão para ouvir música.
Os Clubs de Londres estão fechando por que os aluguéis cada vez estão mais exorbitantes, há problemas com licenças e vizinhos reclamando de som alto, isto sim. Em outras palavras é a Gentrificação, e isso tem acontecido em ritmo acelerado nos últimos 10 anos. Londres ainda é uma cidade sensacional para música e cultura mas grandes poderes estão, pouco a pouco, destruindo essa riqueza.
Wheres my house!
{ SPECTRUM nightclub, London 1988 balearic n acid house side B – DJ desconhecido }
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Descrição  marc castello

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